terça-feira, 23 de janeiro de 2007

A RUA COMO LUGAR DE SUSCETIBILIDADE À VIOLÊNCIA
Patrícia Bianchini
A rua, que deveria ser um espaço privilegiado de sociabilidade, no qual se pudesse vivenciar experiências, experimentar relações, reconhecer os iguais e os diferentes, tem se tornado um cenário de exposição às drogas, à violência e à criminalidade.
Nela, indivíduos, dispostos a correr perigo e a contrapor-se às instituições, envolvem-se em pequenos atos de confronto com regras estabelecidas ou em transgressões da lei, que vão de um pequeno delito eventual à adesão ao crime organizado. Alterados pelo consumo de drogas e com o estado da sã consciência extinto, esses indivíduos praticam as maiores atrocidades e são cada vez mais ousados, pois sabem que a polícia é despreparada, que a justiça é morosa e que a população, inerte e sem força, nada pode fazer contra eles. Humilhadas, ressentidas e revoltadas (com toda razão - diga-se de passagem) muitas das vítimas dos referidos indivíduos nem chegam a registrar ocorrência, depois de sofrerem algum furto ou agressão, e concluem: “Já fui roubado mesmo, registrar o furto não trará meus bens de volta!”.
Cria-se, deste modo, um círculo vicioso no qual os delitos aumentam, os criminosos se fortalecem e a população gradativamente fica mais desprotegida. Embora seja público e notório que o governo junto à polícia vêm tentando combater os altos índices de violência (que nas últimas décadas é motivo de grande preocupação social), problemas como leis mal elaboradas, sistemas carcerários superlotados são entraves para que se efetivem mudanças significativas em favor da população.
Surgem, então, alternativas como desarmar a população: ilusão que muitos alimentam, uma vez que a principal personagem a ser desarmada - o meliante - com certeza, não o será, este lutará com todas as forças para continuar com seu instrumento de trabalho nas mãos, é óbvio! Por conseguinte, leis como a nº 9437 - referente ao uso de armas mal executadas - assim como diversas outras, têm pouca eficácia. Prova disso tem-se no artigo 18 que fala: “É vedado ao menor de 21 (vinte e um) anos adquirir armas de fogo”, e não é cumprido por todos.
O que acontece em nosso país e em muitos outros lugares do mundo é que primeiro se desarma o cidadão, aquele que utiliza a arma como esporte ou como segurança da família, para depois se “tentar” tirar a do ladrão.
O atual momento consolidado por um processo de transição e mudanças que envolvem não só as pessoas como também as comunidades, instituições, segmentos sociais e nações, exige de todos os que se preocupam com o futuro da humanidade, uma parada para refletir sobre como estamos (ou não) mudando em meio a essas transformações e sobre o que estamos efetivamente fazendo para transformar a sociedade em que vivemos num lugar mais justo, solidário, igualitário e seguro.
Para tanto, é preciso chegar à raiz das questões, buscar um consenso sobre qual é o nosso papel na sociedade, sobre o que seja solidariedade, respeito, justiça, reavaliando os valores humanos e éticos em torno dos quais a sociedade deve ser estruturada, buscando princípios que sejam universalmente aceitos, reconhecidos e aplicados para nortear nossos caminhos e quem sabe recuperando a rua que dantes era um espaço privilegiado de sociabilidade, convívio e lazer.

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