terça-feira, 23 de janeiro de 2007

MELANCOLIA
Patrícia Bianchini
Ele passava e me sorria,
Eu fazia de conta que não existia.
De repente, num belo dia,
Pude perceber quanto o queria.
Não mais sorria,Agora, apenas sofria.
Doía, doía...
O porquê, não sabia.
Agora eu lhe sorria.
E ele fazia de conta que eu não existia.
Foi então que me consumia,
Num amor que ele não correspondia.
EU APRESENTO A PÁGINA NEGRA CONTRA:
Patrícia Bianchini
... o branco travestido de paze a guerra que em seu nome se faz,
... o silêncio que não se reconhece como o some o som camuflado pela voz,
... a mentira que finge ser verdadee a verdade que se confunde com a falsidade,
... o ai que não se define como dore a dor que não admiti ainda ser amor,
... a nudez que se veste de santidadee a santidade que se despe da naturalidade,
... o corpo que se diz homeme o homem que não se descobriu humano,
... o abastado que não sabe que é pobree o pobre que não se enxerga nobre,
... o passado que não sabe que ainda é presentee o presente que se torna ausente.
De repente da noite fez-se luz
Que a tudo transforma
E a página d’antes negra clareou...
ASSIM, APRESENTO-LHE AGORA A PÁGINA QUE É BRANCA À FAVOR:
... do sol que traz o calor,
... da lua espelhando um novo amor,
... da chuva que faz renascer a esperança,
... da tempestade que traz a bonança,
... do tempo que aplaca toda a dor,
... da morte na qual renasce o fulgor.
EU APRESENTO A PÁGINA:
... desmistificada,
... desmetaforizada,
... despojada
... eu apresento a página!
JANELA DE MINH’ALMA
Patrícia Bianchini
Presa à escuridão...
Desesperada, busco uma fresta
Por onde a luz possa entrar
E se instaurar.
Quem sabe, se uma janela encontrar
A transparência e o alívio, enfim
Possam em minh’alma adentrar.
Quiçá alcançar essa liberdade e alegria
Que estão soltas no ar...
No entanto, minha janela fechada
Impede-me vislumbrar.
Horizontes tranqüilos, pássaros a voar,
Certamente, alegrariam esta vida triste
E amarga de sonhar...
Talvez uma pequena abertura...
Por onde essa dor pudesse escapar
E vida nova
Viesse a encontrar.
A RUA COMO LUGAR DE SUSCETIBILIDADE À VIOLÊNCIA
Patrícia Bianchini
A rua, que deveria ser um espaço privilegiado de sociabilidade, no qual se pudesse vivenciar experiências, experimentar relações, reconhecer os iguais e os diferentes, tem se tornado um cenário de exposição às drogas, à violência e à criminalidade.
Nela, indivíduos, dispostos a correr perigo e a contrapor-se às instituições, envolvem-se em pequenos atos de confronto com regras estabelecidas ou em transgressões da lei, que vão de um pequeno delito eventual à adesão ao crime organizado. Alterados pelo consumo de drogas e com o estado da sã consciência extinto, esses indivíduos praticam as maiores atrocidades e são cada vez mais ousados, pois sabem que a polícia é despreparada, que a justiça é morosa e que a população, inerte e sem força, nada pode fazer contra eles. Humilhadas, ressentidas e revoltadas (com toda razão - diga-se de passagem) muitas das vítimas dos referidos indivíduos nem chegam a registrar ocorrência, depois de sofrerem algum furto ou agressão, e concluem: “Já fui roubado mesmo, registrar o furto não trará meus bens de volta!”.
Cria-se, deste modo, um círculo vicioso no qual os delitos aumentam, os criminosos se fortalecem e a população gradativamente fica mais desprotegida. Embora seja público e notório que o governo junto à polícia vêm tentando combater os altos índices de violência (que nas últimas décadas é motivo de grande preocupação social), problemas como leis mal elaboradas, sistemas carcerários superlotados são entraves para que se efetivem mudanças significativas em favor da população.
Surgem, então, alternativas como desarmar a população: ilusão que muitos alimentam, uma vez que a principal personagem a ser desarmada - o meliante - com certeza, não o será, este lutará com todas as forças para continuar com seu instrumento de trabalho nas mãos, é óbvio! Por conseguinte, leis como a nº 9437 - referente ao uso de armas mal executadas - assim como diversas outras, têm pouca eficácia. Prova disso tem-se no artigo 18 que fala: “É vedado ao menor de 21 (vinte e um) anos adquirir armas de fogo”, e não é cumprido por todos.
O que acontece em nosso país e em muitos outros lugares do mundo é que primeiro se desarma o cidadão, aquele que utiliza a arma como esporte ou como segurança da família, para depois se “tentar” tirar a do ladrão.
O atual momento consolidado por um processo de transição e mudanças que envolvem não só as pessoas como também as comunidades, instituições, segmentos sociais e nações, exige de todos os que se preocupam com o futuro da humanidade, uma parada para refletir sobre como estamos (ou não) mudando em meio a essas transformações e sobre o que estamos efetivamente fazendo para transformar a sociedade em que vivemos num lugar mais justo, solidário, igualitário e seguro.
Para tanto, é preciso chegar à raiz das questões, buscar um consenso sobre qual é o nosso papel na sociedade, sobre o que seja solidariedade, respeito, justiça, reavaliando os valores humanos e éticos em torno dos quais a sociedade deve ser estruturada, buscando princípios que sejam universalmente aceitos, reconhecidos e aplicados para nortear nossos caminhos e quem sabe recuperando a rua que dantes era um espaço privilegiado de sociabilidade, convívio e lazer.
TER X SER


Considerando-se as condições das sociedades de consumo dirigido, não se pode escapar dos promotores de tais sociedades, fato este que nos integra num circuito elaborado a nossa revelia.
A situação de dominação implícita nesse processo é evidente. O indivíduo desumaniza-se aos olhos de tais promotores e passa a ser visto como entidade econômica, consumidor potencial, cujo poder aquisitivo que o circunda permite-lhe possuir produtos aos quais se habitua e sem os quais não pode sobreviver, uma vez que está literalmente viciado no consumo de mercadorias que o dopam.
Com essa dopagem, dilui-se o discernimento, a escolha e a faculdade do livre arbítrio; deste modo, a dominação do espírito humano pretendida pelo discurso-mercadoria serve à ordem dominante, seja ela de que natureza for.
Bombardeados a todo instante por apelos ao consumo, conseqüentemente, somos consumidos pelo desejo de consumir. Persuadidos, já não fazemos uso da faculdade da razão, deixando-nos levar por meros anseios. Manipulada nossa vontade, concretizamos nossos sonhos em imagens que nos parecem tão verdadeiras!...
Possuir passa a ser sinônimo de alcançar a felicidade: artefatos e produtos proporcionam a salvação do homem, representam bem-estar e êxito. Não somos capazes de vislumbrar que sem a auréola que a publicidade lhes confere, seriam apenas bens de consumo; mas mistificados, personalizados, adquirem atributos da condição humana.
Atingindo indivíduos de toda e qualquer classe social, através dos veículos de comunicação de massa, sérias conseqüências são caudadas em nosso modo de pensar e agir tornando-nos alienados, fora de nossa própria realidade.
Atuar com discernimento e solidariedade nas situações de consumo e de trabalho cientes de nossos direitos e responsabilidades, identificando problemas e debatendo coletivamente possíveis soluções; deveriam ser propostas amplamente difundidas no intuito de mudar essa realidade que nos circunda.
É preciso, pois, perceber essa situação. Consumir não é um mal em si mesmo. O mal está em sermos usados pelo consumismo. Antes que nos esqueçamos, de que somos gente e de que precisamos de saúde mais do que de dinheiro; de carinho mais do que de sucesso; e de amizade e compreensão muito mais do que de consumir; ou, então, nos perderemos em meio à ilusão de ter e nos esqueceremos de ser.
Texto publicado por Patrícia Ferreira Bianchini Borges nas Revistas:

. Revista Pedagógica - Ponto de Encontro, ano VII, nº. 7, 2005. (p. 7).

. Destaque IN - Revista Cultural de Sacramento e Região, ano XI, nº. 68, Mar / Abr 2006. (p.34) Disponível: <http://destaquein.sacrahome.net/node/382>
. E no site Leia Livro em 02/07/2006: