sábado, 8 de setembro de 2007

O LIVRO COMO MERCADORIA

No mercado, o livro participa de uma cadeia bastante diversificada de produtos chamados culturais e, de um tempo para cá, parece ter desistido de competir com os meios eletrônicos e com as linguagens não-verbais, para com eles fazer todo tipo de aliança: temos o livro musical, o livro-jogo, o livro de imagens, o livro brinquedo... disposto, na livraria ou no supermercado, ao lado de fitas de vídeo, de chocolate, de sorvete, etc. Não há como negar que no grande mercado que está do lado de fora da escola tem havido um conjunto de iniciativas voltadas à educação de um leitor já habituado ao cinema e à televisão. Nessa busca, a estratégia parece ser a da aliança.
E aos poucos, parece que certo segmento da sociedade, com poder aquisitivo, escolarizado, que já é, por exemplo, leitor de jornais e revistas, está se colocando não só perante a discussão em torno do livro, mas também está participando de forma mais intensa desse mercado. Nos dias de hoje, indo à videolocadora pode-se ganhar este ou aquele livro na locação de "x" fitas. Nas bancas de jornal, comprando-se a Folha de SP em certos dias da semana, leva-se por algum pequeno valor a mais, um livro-brinde, em geral um clássico de nossa literatura (que, inclusive eu, já comprei). Na imagem da campanha que habita o próprio jornal, projeta-se o leitor pretendido: o jovem (homem) bem-sucedido que, habituado a um veículo, digamos mais ligeiro, pode converter-se em leitor de algo mais refinado, como parece desejar o jornal. Ao lado de tais campanhas, em que o livro é vendido na compra de outro produto, surgem aqui e ali as livrarias que também oferecem brinquedos, revistas, café, CDs, etc.
Paulo Freire, sabiamente, nos ensinou que: “Mulheres e homens, somos os únicos seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de apreender”. E para apreender, não se pode entender o livro, como não se pode entender qualquer traço cultural, desvinculado de um contexto. Numa sociedade fechada pautada em valores absolutistas indiscutíveis, o livro é um repositório da verdade; o professor ‘’dá o livro’’ e na prova ‘’cobra o livro’. Já numa sociedade que está em processo de busca, o conteúdo do livro é uma referência que se leva em consideração. Ele apresenta uma verdade que deve ser discutida pelo professor e com os alunos.
Hoje, o fácil acesso à informação impressa (como citei acima), abre espaço para que se coloque em discussão a informação, para que se compare, questione, critique, crie e se conclua.
Acredito, que o mundo da escrita, do livro e da literatura, mundo de traços pretos, seqüência de linhas imóveis sobre páginas brancas, que se oferece ao leitor em silêncio e fixidez, que espera, pede e talvez exija um corpo solitário, parado, sentado, silencioso, concentrado, disposto a, do alto e da esquerda, perseguir e a animar blocos de linhas para produzir sentidos, é difícil para os alunos. Este mundo que tem sido porto seguro, para nós que nos consideramos leitores, é matéria de nossa imaginação e de nossas indagações sobre o outro mundo (o fragmentado, o dissipado, o da oralidade, o das imagens e sons em movimento, o da realidade eletrônica e eletrizante, o da cultura de massa, o da mídia) é um mundo familiar e ao mesmo tempo estranho para os alunos, acostumados com o outro mundo.
Na escola, o aluno deve dispor do livro especificamente o didático, o paradidático, o cientifico, etc.; mas deve também dispor dos recursos audiovisuais e dos multimeios em geral, como o “blog”, longe de acabarem com o livro, podem lhe dar outra dimensão. Assim, o livro redimensionado e enriquecido pelas mais modernas tecnologias, se mantém como valioso instrumento.
Mas para isso, é imprescindível efetuarmos uma leitura que nos estimule cada vez mais em face dos resultados que ela oferece. Pois, se nós, professores, pretendemos acompanhar a evolução do mundo, nos manter em dia, atualizados e bem informados, nós precisamos nos preocupar com a qualidade de nossa leitura, bem como com a qualidade da leitura que oferecemos aos nossos alunos, assim poderemos contribuir com uma influência positiva para nossos alunos, ensinando-os a ler, de forma crítica e reflexiva, não só dos textos que lhes interessarem, bem como os textos didáticos que lhes apresentarmos em sala de aula.


* Texto originalmente publicado em: Destaque IN - Revista Cultural de Sacramento e Região, Sacramento - MG, p. 32 - 33, 01 dez. 2006.
Disponível em: <http://destaquein.sacrahome.net/node/483>
. Publicado também no site Amigos do Livro. Disponível em: <http://www.amigosdolivro.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=3758>

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