sábado, 1 de setembro de 2007

A LITERATURA: UM “FIO DE ARIADNE” NO LABIRINTO DO ENSINO

A literatura, o teatro e o cinema são escolas de vida para crianças
e adolescentes, onde eles aprendem a se reconhecer a si mesmos.
[...] escolas de complexidade humana onde se descobrem a
multiplicidade interior de cada ser e as transformações das
personalidades envolvidas na torrente dos acontecimentos.
Edgar Morin (1997)


Não é recente a relação da escola, e em especial da disciplina de língua portuguesa com a literatura. Essa relação quer no Ensino Fundamental, quer no Ensino Médio, vem se desenvolvendo não só ao sabor de uma tradição, mas também das mudanças educacionais e sociais através das tentativas de inovação pedagógica.
A dificuldade de ensinar literatura na escola, talvez se encontre no engano de perspectiva ao se lidar com uma obra literária: não se sabe distinguir a palavra-informação da palavra-arte. Enquanto a primeira é essencialmente denotativa, quanto mais preciso e unívoco seu significado, melhor cumprirá sua função: levar o maior número possível de pessoas a entender do mesmo modo a informação; com a segunda, sendo conotativa, dá-se o contrário, porque possibilita múltiplas interpretações, já que é uma palavra poética.
Deste modo, lidamos com a palavra-arte como se ela fosse palavra-informação. Trabalhamos, na escola, com a literatura do mesmo modo que com a matemática ou a geografia: não distinguimos objetivos, nem empregamos estratégias diferentes para essas espécies de palavras.
Os estudos literários nas escolas brasileiras, que tinham como eixo as características de cada período, escola ou movimento, ditavam a seleção dos excertos modelares, por conseguinte textos e/ou autores que não servissem de exemplificação de tais características eram sumariamente descartados, priorizando-se a história da literatura, esquecemos da leitura e de que junto a ela, fora das salas de aula, deve estar o prazer, a fruição, as emoções e o diálogo verdadeiro com a palavra-arte.
Em termos gerais, pode-se afirmar que prevaleceu até pouco tempo uma formação em literatura que - iniciando-se no ginásio com autores como Vieira, Machado, Graciliano, entre outros - prosseguia do mesmo modo até o final do Ensino Médio. A "Antologia Oficial" era firme na tentativa de construção de um letramento literário apoiado, exclusivamente, num conjunto de obras e autores, que assegurasse o conhecimento da nossa própria história cultural.
A partir dos anos 80, inicia-se um período de vigência de outros modelos e o trabalho da literatura na escola começou a ganhar outro contorno. Em formação desde meados da década anterior, a literatura infanto-juvenil chega com força às escolas e às aulas de língua portuguesa, produzindo-se outros padrões de literatura escolar, dentre eles os romances de enigma, de suspense, de terror, de aventura e de amor.
Necessitamos contemplar a atual prescrição oficial, ao mesmo tempo oferecer um espaço de reflexão crítica e de discussão da língua e da literatura tratando o texto como campo de pesquisa, definindo problemas elaborando estratégias de olhar, abordando diversas análises e a partir de então, tratar da fundamentação teórica sólida.
Sabendo-se que gostar ou não da literatura não é um dado biológico, de nascença, mas, sim, uma característica da história de cada um; cabe aos educadores, portanto, influir o máximo possível nesse dado cultural. Com base nessa realidade, dúvidas surgem: É lícito impor-lhe a literatura? Até que ponto é legítimo determinar a leitura de uma obra a ser cobrada em determinado dia do calendário escolar? Seria a técnica da coerção capaz de formar leitores?
É preciso mostrar ao aluno não só a literatura, mas também as demais artes como fascinantes formas de descoberta do indivíduo, nas relações de recreação e recriação possíveis entre ele e a obra, descortinando todas as possibilidades de cada arte, mas, contudo, deixando-o livre para se aventurar nos caminhos de uma ou de outra. Cabe ao educador sempre se questionar se está atuando de forma eficiente e orientadora, se está motivando verdadeiramente e/ou se está oferecendo um acompanhamento estimulante ao aluno para que sinta prazer em ler um clássico da literatura.
Cyana Leahy, professora da UFF, considera que o ideal seria trabalhar de acordo com uma proposta teórico-metodológica de educação literária - educar pela literatura - compatível com as políticas públicas para a educação escolar no que elas têm de mais adequado. Embora a maioria dos programas elaborados por coordenadores falasse em despertar no aluno o prazer da literatura, em sua opinião a disciplina traduzia uma “mistura malfeita e desnecessária de português com história”, “perda de tempo”, “a melhor maneira de fazer alguém detestar ler” (alunos), portanto devemos lutar contra essa visão errônea da disciplina literária na escola.
Deste modo, a sala ambiente de língua portuguesa torna-se um espaço que visa reunir e integrar as diferentes linguagens, expressando as tradições humanas que coexistem fora da escola, inserindo o aluno à leitura realizada de textos autênticos e significativos e levando-o a concluir que “importa além do que o texto diz, a maneira como ele diz”.



Referências:

BARROS, Maria de Fátima. BRAGA, Regina Maria. Construindo o leitor competente – Atividades de leitura interativa para a sala de aula. Editora Fundação Peirópolis, 2002.
PAULINO, Graça. COSSON, Rildo. Leitura literária: a mediação escolar. Faculdade de Letras da UFMG, 2004.




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