sábado, 1 de setembro de 2007

ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: OLHANDO PARA O FUTURO


As discussões sobre a importância de se aprender uma língua estrangeira remonta há vários séculos. Assim, em determinados períodos da história do ensino de idiomas, privilegiou-se o conhecimento do latim, do grego e/ou do conseqüente acesso à literatura clássica; enquanto que em outros momentos valorizou-se o estudo das línguas visando ora alguns objetivos específicos, ora outros, desconsiderando-se, portanto a competência lingüística que deveria ser o objetivo maior a ser alcançado.
Deste modo, ao pensarmos na aprendizagem de uma segunda língua, é imperativo ponderar os verdadeiros motivos pelos quais queremos aprendê-la para obter sucesso. Evidentemente, é fundamental atentar para a realidade das necessidades, motivações e desmotivações, como: as semelhanças e diferenças entre as várias culturas, a constatação de que os fatos sempre ocorrem dentro de um determinado contexto, a aproximação das situações de aprendizagem à realidade pessoal e cotidiana dos estudantes, entre outros fatores que auxiliam ou atrapalham o processo de construção de conhecimentos.
Desta forma, se em lugar de pensarmos, unicamente, nas habilidades lingüísticas, pensarmos em competências a serem dominadas, talvez seja possível estabelecermos as razões que de fato justificam essa aprendizagem.
Nessa linha de pensamento, deixa de ter sentido o ensino de línguas que almeja apenas o conhecimento metalingüístico e o domínio consciente de regras gramaticais que permitem, quando muito, alcançar resultados simplesmente medianos em exames escritos. Esse tipo de ensino, que acaba por tornar-se uma simples repetição, ano após ano, dos mesmos conteúdos, cede lugar, na perspectiva atual, a uma modalidade de aprendizagem significativa que tem como princípio geral levar o aluno a comunicar-se de maneira adequada em diferentes situações da vida cotidiana.
Nesta perspectiva, encontramos no âmbito da LDB, as Línguas Estrangeiras Modernas recuperando, de alguma forma, a importância que durante muito tempo lhes foi negada. Consideradas, muitas vezes e de maneira injustificada, como disciplina pouco relevante, elas adquirem, agora, a configuração de disciplina tão importante como qualquer outra do currículo, do ponto de vista da formação do indivíduo. Assim, integradas à área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, assumem a condição de serem parte indissolúvel do conjunto de conhecimentos essenciais que permitem ao estudante aproximar-se de várias culturas e, conseqüentemente, propiciam sua integração num mundo globalizado.
É essencial, pois, entender-se a presença das Línguas Estrangeiras Modernas inseridas numa área, e não mais como uma disciplina isolada no currículo, pois as relações que se estabelecem entre as diversas formas de expressão e de acesso ao conhecimento justificam essa junção.
Assim o esforço de pensar o ensino-aprendizagem de uma língua, implica a existência de reflexões, significações e re-significações que nos levam em direção a uma aprendizagem significativa, uma vez que não nos comunicamos apenas através de palavras; os gestos também dizem muito sobre a forma de pensar das pessoas, assim como as tradições e a cultura de um povo esclarecem muitos aspectos da sua forma de ver o mundo e de aproximar-se dele.
Por um século inteiro, entre 1880 e 1980, educadores buscaram um método ideal de ensino de Língua Estrangeira. Foram criadas diversas correntes de ensino, como a de gramática e tradução, a audiovisual, a audiolingual, entre outras; mas os especialistas concluíram que o método não poderia ser visto como um modelo pronto e definido.
Parafraseando Alba Celani “para se contemplar o futuro, torna-se imperativo olhar para o passado, e isso só é possível a partir do presente.” Dessa observação surgem questões como: “Qual o panorama, atual, do ensino de línguas? Quais as tendências dominantes? Para onde apontam?”.
Nas décadas de 1970 e início de 80, era comum ensinar e aplicar exercícios específicos para cada uma das áreas isoladamente, equivalentes às quatro principais habilidades no ensino de línguas estrangeiras: “ouvir, falar, ler e escrever”. Professores em treinamento, por vezes, recebiam a seguinte instrução: “Não se deve falar nada antes de ouvir, não se deve ler nada antes de falar, não se deve escrever nada antes de se ler”.
A partir da década de 80, esse conceito passou a ser revisto e o que antes era tratado como método virou um processo dinâmico, cíclico, cheio de incertezas e sem fim. Recursos múltiplos, oferecidos por diferentes tipos de mídia, passaram a ter papel relevante no ensino de línguas estrangeiras, uma vez que atualmente, há varias ferramentas para o processo ensino-aprendizagem de línguas dantes inexistentes, dentre elas o uso da tecnologia que encoraja o ativo aprendizado, auxiliando os estudantes a pesquisar, a acessar informações, etc.
O grande desafio para nós, professores, na caminhada em direção ao futuro do ensino de línguas estrangeiras seria aprender a lidar com as mudanças e de acordo com a realidade vivida pelos alunos, suas expectativas e perspectivas; ensinando-lhes conteúdos significativos, posteriormente aproveitáveis e levando-os a reconhecer que a aquisição de uma segunda língua é parte integrante da formação global do indivíduo, pois permite o acesso aos bens culturais da humanidade.


Referência:

CELANI, Maria Antonieta Alba. Ensino de Línguas Estrangeiras: Olhando para o Futuro. In: Ensino de Segunda Língua: Redescobrindo as Origens. Org. Maria Antonieta Alba Celani. São Paulo: EDUC, 1997.

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